As Condições do Conhecimento Religioso

Autor(a):

Texto: Provérbios
2:1-9

Introdução: O
capítulo anterior nos mostrou em uma variedade de representações a necessidade
e o valor da sabedoria, a questão agora é tratada – Como ela deve ser buscada e
alcançada?

I. Condições do Lado do
Homem.

A enumeração é culminante, partindo das expressões menos
fortes para as mais fortes.

1. Receptividade.
A mente e o coração abertos, sempre prontos a “adotar” sentimentos verdadeiros
e apropriar-se deles como seus. A questão não é perguntar – Quem disse isso?
Por qual canal chega até mim? Mas – é sadio? é verdade? Se assim for, é para
mim, e será feito meu. A verdade é propriedade comum.

2. Atenção,
concentração, assimilação.
“…entesourares
contigo os meus mandamentos”.
O aluno meticuloso acha necessário
exercitar sua memória, e auxiliá-la com o uso de cadernos, onde esconde seu
conhecimento. Da mesma forma, devemos agrupar e armazenar, organizar e digerir
nossas impressões religiosas, que de outra forma “entram por um ouvido e
saem pelo outro”. Provérbios germânicos curtos podem assim ser guardados
na memória; eles vão explodir em fertilidade algum dia.

3. Aplicação ativa.
Em linguagem figurada “atentando o
ouvido”
e “inclinando o
coração”
na direção desejada. A mente não deve ser passiva na
religião. Não é um processo de “enchimento”, mas de atividade
pessoal, original e espiritual por toda parte.

4. Desejo apaixonado
e devoção.
“Clamares por
discernimento, e por entendimento alçares a tua voz”
– para dar outra
tradução ao verso 3. Devemos invocar o espírito de Sabedoria para as
necessidades da conduta diária; colocando-nos assim em relação viva com o que é
nossa verdadeira natureza. Fra Angelico orou diante de seu cavalete; Cromwell,
em sua tenda na véspera da batalha. O mesmo deve acontecer com o pensador em
seu escritório, o pregador em seu púlpito, o comerciante em sua mesa, se quiser
ter a verdadeira clareza de visão e o único sucesso genuíno. A verdadeira
oração é sempre para o bem universal, não para o privado.

5. Esforço
perseverante e laborioso.
Ilustrado pela labuta do mineiro. A passagem (Jó
28), de extraordinário poder e interesse pitoresco, descrevendo as operações do
mineiro, pode nos ajudar a apreciar a Ilustração. A busca do ideal é ainda mais
árdua que a do material, como prata e ouro. Costuma-se dizer que a perseverança
do trabalhador profano envergonha a preguiça do homem espiritual. Mas não
ignoremos o outro lado. A labuta na região espiritual não é óbvia aos olhos
como a outra, mas não é menos praticada em silêncio por milhares de almas
fiéis. Devemos refletir sobre o imenso trabalho de alma que custou produzir o
livro que nos desperta como uma nova força, embora possa parecer fluir com
extrema facilidade da pena. Tais são as condições de “compreender o temor do Senhor”, ou, em linguagem moderna, de se
apropriar, fazer nossa a religião; “recebendo as coisas do Espírito de
Deus”, na linguagem de Paulo (1 Coríntios 2:14). É a mais alta posse
humana, porque permanente, inalienável e preservadora em meio às mazelas da
vida.

II. Condições do Lado
de Deus.

Se a religião é a união ou identificação da alma com Deus,
ela deve se relacionar conosco de tal maneira que isso seja possível.

1. Ele é a Fonte e
Doador da sabedoria.
Ele não apenas contém em si aquele conhecimento que,
refletido em nós, se torna prudência, senso, sabedoria, piedade; ele é uma
Vontade ativa e um Espírito auto comunicante. Os antigos tiveram um vislumbre
disso quando disseram que os deuses não eram de natureza tão relutante ou
invejosa a ponto de não revelar seu bem aos homens. Deus é auto revelador; “dá
livremente de suas coisas” para nós, para que possamos conhecê-las e, ao
conhecê-las, possuí-las.

2. Sua sabedoria é
salvadora.
“Verdadeira sabedoria”
(verso 7) pode ser melhor traduzida como solidez, ou salvação, ou saúde, ou
saúde salvadora. Parece vir de uma raiz que significa o essencial ou real. Nada
é essencial a não ser a saúde para o prazer sensual; nada além de saúde, no
sentido mais amplo, para prazer espiritual. Pensemos em Deus como ele mesmo
Saúde absoluta e, portanto, o Doador de toda saúde e felicidade para suas
criaturas.

3. Ele é o Protetor
dos fiéis.
A imaginação hebraica, informada por constantes cenas de guerra,
se deleita em representá-lo como o Esconderijo ou Escudo de seus servos (Salmo
18:2; Salmo 33:20; Salmo 89:19). Aqueles que “caminham em integridade” parecem ter uma vida encantada.
Eles “não temem mal algum”,
pois ele está com eles. O vasto céu é o teto da barraca. Eles podem ser mortos,
mas não podem ser feridos. Ser arrebatado deste mundo é ser pego em seus
braços.

4. Ele é a Justiça
eterna.
Sendo isso em si mesmo, o “caminho
de seus santos”,
que é sinônimo de retidão humana, não pode lhe ser
indiferente. O certo é a ideia mais elevada que podemos associar a Deus. Está
isento da possível suspeita de fraqueza ou desorientação que pode se apegar à
mera ideia de bondade ou amabilidade. Ele essencialmente inclui poder. Assim, a
alma encontra abrigo sob esta vasta e majestosa concepção e fé de seu Deus.

Estas, então, são as condições, divinas e humanas, da
religião. Para que possamos realizá-la em nós mesmos, “compreender a retidão, a justiça, a equidade” – em uma
palavra, “todas as boas veredas”
de vida e pensamento, unindo piedade com moralidade – as condições devem
ser cumpridas fielmente. A saúde corporal perfeita pode não ser alcançada;
algumas de suas condições estão fora da esfera da liberdade e dentro da esfera
da lei necessária. A saúde espiritual é alcançável, pois está dentro da esfera
da liberdade. Então Deus é realizado; é o éter da alma e a região do amor, da
luz e da bem-aventurança.

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